domingo, 23 de novembro de 2008

ausência..

eu deixarei que morra em mim o desejo de amar seus olhos que são doces,
porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres exausto...
no entanto a tua presença é qualquer coisa, como a luz e a vida...
e eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto...
e em minha voz, a tua voz...
não te quero ter, pois em meu ser tudo estaria terminado...
quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados...
para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada...
que ficou em minha carne como uma nódoa do passado...
eu deixarei... tu irás e encostarás tua face em outra face...
teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada...
mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite,
porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa,
porque os meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço...
e eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
e eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos,
mas eu te possuirei mais que ninguém, porque poderei partir.
e todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas,
serão a tua voz presente, tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Vinícius de Morais